STALIN, MAO, FIDEL (e ERENICE)

data original:11/09/2010

Na semana passada uma frase atribuída a Fidel Castro girou o globo e quetou. Na verdade ela só rodopiou pelo fato de ter sido dita por um dos homens que mais a negaram antes. A frase era: “o nosso sistema não funciona mais nem para nós”.  Não é difiícil imaginar o por quê (observe bem a imagens acima. Note as grifes. Elas podem lhe dar uma pista).

Você, leitor, instado a citar 02 ou 03 países cuja história registrou algum nível de sociedade aceitável (transparência, cadeia com tortura para corrupto, liberdade de expressão,  debate, produtividade, competência, lazer, distribuição de riqueza, poder de cidadão…), incluiria alguma socialista?A minha curiosidade era ver o candidato à Presidência da República  e secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro,  contestar Fidel e justificar a frase jogada pela TV: “o verdadeiro socialismo ainda não foi praticado na terra“.

Como um dos objetivos deste blog  é insisir que ÉTICA NÃO É IDEOLOGIA, o texto abaixo exibe fotografias do ambiente de MAO e STALIN que explicam FIDEL, Erenice e OS NAÕ SE SABE QUANTOS MILHÕES (veja DESVIO NO SINDJUFE É DE BEM MAIS DE MEIO MILHÃO!, O QUE É ISSO, COMPANHEIRO?…). Dê uma olhada:

 “… Durante boa parte da Longa Marcha, inclusive em seu trecho mais estafante, a maioria deles (os chefes militares) foi carregada. Mao chegou mesmo a desenhar o seu próprio transporte (…) Ele disse: ‘vejam, criamos nossas próprias liteiras (…) seremos carregados´ (…)  O próprio Mao contou ao seu staff,  décadas depois: ‘na marcha, eu ia deitado numa liteira. Então, o que fiz? Li. Li muito …Fl. 184.

…Mas o principal motivo de Mao para ir a Zhangzhou [receber doações de Moscow, durante as lutas pelo poder] era acumular uma fortuna privada. Um grande número de caixotes marcados com a frase “entregar a Mao Tse-Tung pessoalmente‟ … Eles encheram um caminhão inteiro e, quando acabou a estrada, foram levados por carregadores. Dizia-se que continham livros que Mao havia comprado ou pilhado, e alguns realmente correspondiam a essa descrição. Mas muitos continham ouro, prata e joias. Eles foram levados secretamente para o alto de uma montanha por carregadores e guardados dentro de uma caverna por guardas de confiança, supervisionados por Tse-mim, irmão de Mao…(fl. 153)

… O staff de Stalin estava atolado em corrupção.  Vlássik, o vizir que dirigia um império de alimentos, bebidas e mansões, entretinha suas cortesãs em casas de repouso oficiais, com uma tripulação de pintores vulgares, tchequistas [de Tcheca, primeira polícia política soviética] sanguinários e burocratas sibaritas. Limusines faziam a entrega de ‘concubinas’ que ganhavam  apartamentos , caviar, entradas para as paradas da Praça Vermelha e jogos de futebol …” (fl.610)

Veja o que estava em pdf:

 A declaração atribuída a Fidel Castro girou o globo, mas não deu mais que uma volta. O modelo que ele teria dito não funcionar mais não funcionou em canto nenhum, nunca! Nem poderia: para funcionar, o socialismo teria de se imaginar como um composto de gente (dúvida, interesse, desejo…). Não de bonecos ou matrizes reprodutoras. E permitir a discussão. Para quê? Para que as próprias demandas gerassem solução. O nome deste processo é Vida, Cidadania, Política, Democracia, História, que o modelo recusou. Não vamos esquecer que ninguém mais do que os socialistas concretos (feitos de interesse e ferro) falou em Fim da História. Afinal, ninguém mais do que eles exigiu o Fim da Mudança, o Fim do Pensamento (corria a seguinte piada pela China e URSS: aqui, a única coisa que muda é o passado. Referia-se às figuras eliminadas das fotografias oficiais e particulares, após os expurgos. Em STALIN, A CORTE DO CZAR VERMELHO, Simon Sebag conta que cada família importante tinha seu censor em casa: a cada expurgo, ele ia eliminando do álbum familiar a foto ou imagem do antigo amigo, colega ou parente desaparecido). Como você vê, não é de agora essa história de eliminação de artigo já publicado (veja GRILAGEM x APAGÃO MORAL). Vem de longe.

Antes do Muro do Berlim tombar, todos nós socialistas amadores (o profissional é aquele que vive – e bem! – da política, embora alguns sejam sérios) críamos mesmo que stalinismos, maoismos e outros quase idealismos tinham sido um desvio e que a causa era justa. E era. Mas não havia desvio nenhum, como a História mostrou! Aquela galera era, sim, a burguesia do capital alheio que comeu, bebeu e viveu ou vive como tal. E quem primeiro disse isso não foi o jornalista Reinaldo Azevedo (http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/). Foram os críticos de Mao Tse-Tung e o próprio Stalin. Não esqueçamos que Mao, um dos mais primitivos e depravados ditadores, começou a sua fortuna pessoal transformando um veículo doado por uma organização americana para uso comunitário (ambulância) em veículo pessoal. Isto, quando ele ainda era um mero ativistas que negociava com todos os lados em disputa (japoneses, russos, americanos…). As 954 páginas de MAO, A HISTÓRIA DESCONHECIDA (John Hallyday e Jung Chang; CIA DAS LETRAS, tradução de Pedro Maia Soares, SP, 2006), além de muito sangue, fome e morte em massa, terror, perversão, corrupção, traição, desastres administrativos e o mais absoluto senso de propriedade privada, revela não só uma elite que vivia em condomínios fechados, como um Mao Tse-Tung de longo gosto por liteiras (fls. 60, 97, 184, 195, 203, 208, 370 e 573). Viu as linhas acima, né, leitor?

Embora as quase 900 páginas de STALIN, a corte do czar vermelho (Simon Sebag Montefiore, trad. Pedro Maia Soares- S. Paulo, Cia das Letras, 2006) apesente o seu personagem central quase como um austero democrata se comparado a Mao, na URSS stalinista, as coisas não eram muito diferentes das da China. A devassidão moral era tanta que o próprio Stalin se referia ao fundamental setor de Abastecimento, por exemplo, como um “covil de ladrões “! (fl. 618). Umas linhas:

“...Jukov [comandante do vitorioso exército soviético na 2ª Guerra] não estava sozinho em seu “museu de ouro e pinturas‟. A corrupção é a história não contada do terror stalinista do pós-guerrra: os magnatas [grupo de poderosos ao redor de Stalin] e marechais saquearam a Europa com a avareza de Gorin, embora com muito mais justificativa depois do que os alemães haviam feito com a Rússia… Golovánov, um dos favoritos de Stalin, desmontou a casa de campo de Goebbels, e levou-a de avião para Moscow, uma façanha que arruinou a sua vida… Em Gagra, Béria [o principal chefe da repressão que morava com mulher, filho e amante numa mansão de inúmeros quartos …; na foto abaixo, ele porta um machado na cintura, tendo,  entre ele e Stalin, Yejóv, com quem, junto com Abakúmov, formou a santíssima trindade da prisão, tortura e morte Stalinista] perseguia e impressionava atletas femininas numa frota de lanchas pilhadas…

Abukov [outro chefe de serviço secreto. Eram inúmeros!] andava por Moscou em carros esportivos italianos … Mandava aviões a Berlin para trazer quantidades de roupas íntimas, montando um tesouro de antiguidades como se fosse uma loja de departamentos… Quando a atriz Tatiana Okuniêvskaia, já estuprada por Béria, o recusou, ganhou sete anos nos Gulags [campos de trabalhos forçados]. O staff de Stalin estava atolado em corrupção. Vlássik, o vizir que dirigia um império de alimentos, bebidas e mansões, entretinha suas cortesãs em casas de repouso oficiais, com uma tripulação de pintores vulgares, tchequistas sanguinários e burocratas sibaritas. Limusines faziam a entrega de ‘concubinas’ que ganhavam apartamentos , caviar, entradas para as paradas da Praça Vermelha e jogos de futebol. Vlássik (general) seduzia as esposas de seus amigos, mostrando-lhes fotografias de Stalin e mapas de Potsdam [cidade alemã onde houve a primeira conferência do pós-guerra]. Chegou mesmo a roubar das casas de Stalin, saqueando a vila de Potsdam, subtraindo cem peças de porcelana, pianos, relógios, carros, três touros e dois cavalos, levados para sua casa em trens e aviões do MGB [outro serviço secretos]. Ele passou boa parte da conferência de Potsdam bebendo, fornicando ou roubando…” (fl. 610)

Notou no detalhezinho vermelho, leitor? Não se pode dizer que os camaradas socialistas” não tenham pedigree, né? Lembremos, aliás, que Moscou não formou a sua URSS com base em acordos ou entendimentos com os países ao seu redor. Mas, enviando-lhes trens carregados de tropas militares e polícias políticas que os subjugavam e “nacionalizavam” os seus bens. Assim se formaram os magnatas e a corte de Stalin (Kruchióv, Molotov, Jdanov, Malenkov, Béria…), cujos valores morais talvez não pudessem se comparar com os do vegetariano Hitler.

Mas por que o modelo não funciona?

Primeiro, por matar a inciativa individual, a fantasia e o humaníssimo desejo individual de realização e sucesso. A não ser quando se tratava de membro do partido, claro. Segundo, por falta de Oposição. Não permitindo que os desejáveis grupos de interesse internos sobrevivessem e disputassem a OPINIÃO PÚBLICA, o sistema se condenou à própria mesmice e, com o tempo, feneceu por falência múltipla dos órgãos. Note-se que, programado para o desejo e a fantasia que promete satisfazer, o capitalismo só sobreviveu a si mesmo por portar em si a oposição (crítica, concorrência) e, claro, um Estado que o ordenasse e, quando necessário, socorresse-o. Nele sempre haverá um germe de democracia. E admitamos: quanto mais criticado, melhor. Resumo: não funciona porque o animal humano é um bicho que aspira, tem interesse e precisa ser alimentado com liberdade, expectativa e regras que o representem sem lhes perdoar a infração. No socialismo, essa fera, quando não no poder, esteve enjaulada. Ou melhor: empalhada. Foi, aliás, uma sociedade empalhada. Vivo mesmo só o Estado, o Partido, que precisará de muito cargo, slogan ou arma para evitar que futuras gerações alimentadas e escolarizadas se perguntem:

  • sirvo pra quê, se não posso nem pensar (divergir)?Sou pessoa ou coisa? Posso ter um projeto de pessoa?

Lembra de ÉTICA NÃO É IDEOLOGIA? Vêm, então, as demandas “naturais” (desejos) que o regime não consegue acomodar. E por mais eficiente que fosse qualquer “socialismo” o que jamais foi o seu forte – o choque sempre lhe foi iminente ou imanente. Trata-se do único regime que, se der certo, cai. Por que será que, quando puderam, os povos alimentados e educados no “socialismo” fugiram?

Não funciona, também, por … Corrupção, inclusive de Valores. Sem outros canais de realização a não ser o Partido/Estado, o “socialismo” é uma bomba de egos, desejos, cochichos, medo, necessária bajulação e certezas que demoram a explodir. Mas no tempo em que o longo pavio passa queimando, muito dos valores se esvai. Instalada no poder, a ideologia esfria e todos os seus belos cantos se voltam para a sinfonia do poder (bajulação e cargos). Você sabe que a força dessa equação é tanta que até sob oposição, imprensa e alto risco de descoberta, surgem os Delúbios, Marcos Valérios. Erenices… E matérias como DESVIO NO SINDJUFE É DE MAIS DE MEIO MILHÃO!, não é, caro (e)leitor?

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– a literariamente incrível setença que mandou capar o estuprador;
-algumas frases dos filmes UM JUIZ MUITO LOUCO e O PODEROSO CHEFÃO III;
– a sadia vingança do diabo contra o político brasileiro; e
– uma consulta ao mais íntimo do povo brasileiro chamada INTERVALO CLANDESTINO.
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2 respostas para STALIN, MAO, FIDEL (e ERENICE)

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