ELOGIO DA SERENIDADE e outros escritos morais, (Editora Unesp, 2000), a última e talvez mais biodegradável garrafa com mensagem lançada ao mar por Noberto Bobbio, já fez 10 anos. Sempre será um clássico, mas é preciso ser lido. Sobretudo por quem fala ou falou no que vê apenas como especiaria eleitoral. Ex: mudança, transformação, democracia… Bóbbio fala dessas coisas, mas não é peixe o que ele vende. É Convicção, Moralidade, Princípio…
Resenha premiada em São Paulo
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É MUITA ONDA!
Pronto. Agora, ninguém mais precisa ser canalha. É esta a sensação de quem, triste por terminar, vira a última página de ELOGIO DA SERENIDADE e outros escritos morais (Editora Unesp, 2000), a última e talvez mais biodegradável garrafa com mensagem lançada ao mar pelo Professor, Jurista e Filósofo italiano Noberto Bobbio, interessado nas ondas.
De cara, em longa, macia e conclusiva reflexão sobre a Serenidade, o então nonagenário mestre mete uma bola direto do meio de campo ao gol, fazendo desenovelar-se no ar uma redonda sucessão de efeitos que, protagonizada por temperança, sobriedade, sinceridade, idealismo, honestidade, simplicidade, compromisso, boa-fé e força moral, pode até não ser franca com o goleiro. Mas é incomum o suficiente para despertar na galera que o princípio da regra moral (e da vida, depreende-se!) é o respeito pela pessoa. Era um humanista, coitado, e, como tal, um usuário da razão como arma anti-obscurantista … Que a sua porção-jurista utilizava para iluminar as relações entre Direito e Poder.
Em A Era dos Direitos (Editora Campos, 1992), já havia dito que a natureza da Democracia era o direito, fundamentado na regra; em Do Poder ao Direito e vice-versa (em Bobbio no Brasil – um retrato intelectual, org. por Carlos H. Cardim, Editora UNB, 2001), que “o poder sem direito é cego, mas o direito sem poder é vazio”. No Elogio, em apelo por tolerância (“respeito pela consciência alheia”); pluralismo; ética (única prisão de segurança máxima capaz de conter a fera, justamente por ser feita de conceitos e princípios que o
próprio preso não aceita atacar); democracia (expansão da sociedade para dentro de si mesma: bens, direitos, deveres, educação, observância das normas… inclusão!); cidadania (exercício da dignidade, do direito e dos deveres) e serenidade (“não-avidez pelo poder”), o emérito pensador espeta com dorido lirismo: “o violento retira dos que violenta o poder de doar”.
Sobre ética na política, foi sucinto: na oposição, todos têm princípio; no poder, todos querem resultado. Sobre fé, inclusive na revolução, assombrou com o arrepiante oitavo ensaio “os deuses que fracassaram – algumas questões sobre o problema do mal”, não recomendável aos que crêem.
Sim, trata-se de uma obra contra a violência, a arrogância, a submissão e a prepotência. Civilizadora, portanto. Duzentos e oito páginas de rigor, conceito e nenhum sotaque acadêmico estão ao chão à espera de quem as bique. Astutas como a raposa (coitada da raposa!) e de boa-fé como as pombas, passeiam por grandes temas e clássicos do ocidente, oferecendo ponte. Como se fossem de um Kant (agir por dever; visar mais à moralidade do que à legalidade; coincidir éticas pública e privada; exigir mais do próprio caráter do que do dos outros…), suspiram para que o leitor incorpore valores que os habilite a viver de forma menos condenável.
Sim: se o leitor lhes sublinhasse cada argumento com lápis de cor, no final bom número dessas páginas não só estariam pintadas como, movidas por sua própria força, saltariam à sua cabeça, monumentando-a. Quarenta anos de magistério na área de Direito e Filosofia as tornaram um legítimo antimaquiavel e, embora deixem claro que “aos serenos não será dado o reino da terra”, lembram que traços próprios ao poder (agressividade, astúcia, ousadia, carreirismo, oportunismo, dinheirismo …) com o tempo se perdem. Ao contrário, salientam, virtudes que levam à serenidade (temperança, moderação, boa-fé, altruísmo, escrúpulo…) com o tempo se ganham.
Que Deus o tenha!
Uma resenha italiana sobre este livro patenteou-se com o singelo título:
Arrogantes e prepotentes, a serenidade os sepultará.
Leia, também, SÓ O ATO SALVA e só o ético pode orar
Ainda sobre Bóbbio, veja o que Alan Johnson escreveu na página LIBERDADE dos TRABALHADORES:
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