data de origem: 28/08/2010
Na verdade, uma se opõe à outra:
- uma serve ao DEBATE e dele se serve. A outra, ao COMBATE, de preferência cego;
- uma serve para dizer o que DEVE/PRECISA ser dito, do ponto de vista da MELHOR TOTALIDADE, o que implica pensamento, discussão, discernimento… A outra (laica ou religiosa), para conquistar e manter aliados. Infelizmente, nem sempre vivos;
- uma pensa em DESCOBRIR/REVELAR, outra, ENCOBRIR/JUSTIFICAR.
Já pensou se um socialista de verdade, após várias gerações de alimento, saúde e escola hipoteticamente boas e garantidas, se perguntasse:
– para quê, se não se pode nem pensar (divergir)?
– e agora? Sirvo pra quê, se não posso ter projeto de pessoa?
– O que faço com essa educação e essa comida toda?
– O que é mais importante o sistema ou a pessoa(a árvore ou a floresta)?
Seria inevitável a sensação de coisa, meio, utilidade. E não fim. Esse socialista poderia ser a blogueira cubana Yoani Sánchez (http://www.desdecuba.com/generaciony/), há não muito espancada em Havana junto com o marido.
Por que, quando puderam, os povos alimentados e educados no “socialismo” escaparam a seus regimes? Seria impossível que Cuba e Coréia do Norte se esvaziassem, se permitissem viagem? Em 1981, por exemplo, uma multidão de cubanos invadiu a embaixada do Peru, querendo saída para qualquer parte. E sempre se pega gente em alto mar ou já na beira do capitalismo, arriscando tudo em boias que encheram com o próprio ar.
Sabe-se que, em tudo dedicado a transformar cidadão em beato; ideologia em religião e membros do partido em divindades, o ESTADO SOCIALSITA foi um PODER POLICIAL ABSOLUTO, do qual só se saiu morto, inválido ou fugido. Nele viveu um POVO-CRIADO: não lhe cabendo a crítica, não lhe coube ser humano (diversidade, inteligência, projetos, personalidade…). E nisso, infelizmente o capitalismo, com o seu potencial de lucro, técnica, disputa consentida, contratos e imaginação, foi-lhe muito superior (onde ele não presta não é ele. É a sociedade…). Se barbárie sempre houve, e imperialismo é a lei da História (veja A RIQUEZA E A POBREZA DAS NAÇÕES), não resta dúvida: cada povo que cuide si; cada sociedade que estabeleça as suas regras; cada indivíduo que force a sua história.
Daí, a necessidade de OPOSIÇÃO. Cabe, aliás, a pergunta: para onde vão os que discordam de regimes autoritários (autoritário é quem não pode pôr em exame os seus próprios credos)? Convenhamos que, sendo o estado “socialista” um bloco monolítico que – ao mesmo tempo – legislou, executou e julgou (de acordo com códigos não escritos ou apenas editados); e, ainda, o empregador, o comprador, o vendedor e o editor exclusivos, foi, também, um espaço onde não se pôde falar em autonomia, reflexão, escolha, alma da ÉTICA. Nem em DEMOCRACIA (expansão da sociedade para dentro de si mesma; permissão institucional para o DISSENSO…); ou CIDADANIA (poder de uma vontade se opor a outra, inclusive o Estado, desde que baseada em lei pública). Tudo isso leva a crer que, sendo a única forma de socializar o ESTADO (para usar os termos da Profª Marilena Chauí), é a DEMOCRACIA a única forma de socialismo possível. E a EDUCAÇÃO, o seu principal meio. Veja-se que DEMOCRACIA não interessa a nenhum poder, mínimo que seja. Veja-se que não cabe ao poder a expansão da democracia. Mas ao não-poder (toda forma de enfrentamento e oposição).
Não é esquisito que não se tenha conhecido escritores/pensadores ou humoristas dentro do “socialismo”? E que, quando surgiram, foi-lhes feita a guerra devida! Não é engraçado que foram justamente os “socialistas” quem mais matou socialista? O que se pode falar com segurança, quando se refere a esse tipo de regime, é em uma IDEOLOGIA (propaganda ou pílula dourada ou a mentirinha nobre, como dizia o importante Norberto Bobbio) que confisca. Confisca o quê? Tudo. A SOCIEDADE. Sociedade não: “POVO“, a massa desorganizada e abstrata que a esquerda, como a direita, sempre quis para si. Daí as FOGUEIRAS INQUISITORIAIS que, como as da Igreja Católica, torraram qualqeur coisa qeu se mexesse fora do esperado. Não é de se estranhar que, mais de 2500 anos após os gregos e as inúmeras bibliotecas escritas por ex-comunistas e simpatizantes, ainda exista inteligência disposta a elogiar e até pretender estruturas sociais jogadas ao lixo por quem as experienciou? Seriam loucos esses povos?
Seria bobo crer nisso. Há uma incompatibilidade genuína entre esse modelo de sociedade e o ser humano: Comida, dormida e saúde não bastam a esse bicho. E quanto mais alimentado, saudável e escolarizado (e isso esteve longe de ser uma regra no socialismo), mais ele imagina (procura a sua FELICIDADE). Vêm, então, as demandas “naturais” (desejos) que o regime não consegue acomodar. E por mais eficiente que fosse qualquer “socialismo” – o que jamais foi o seu forte – o choque sempre lhe foi iminente ou imanente. Trata-se do único regime que, se der certo, cai. Daí o dogma (ideologia) e a repressão. Não por outra razão, o PC chinês, conhecedor do submundo soviético e do seu próprio (o que incluiu os seus quintais asiáticos), preferiu, ele mesmo, cair fora. Note-se: no leste europeu, foi a sociedade que se livrou do regime. Na China, foi o próprio partido. Não é curioso?
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