“…O curioso e engraçado é se fazer do pelourinho uma espécie de sede social da negritude … negritudizaram o pelourinho…”
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do memorável Prof. Cid Teixeira, de quem fui aluno na Ufba (veja AÇOUGUE CULTURAL, em MULTIUSO 2) O Professor Cid foi a pessoa que me deu a maior notícia da minha vida (antes de Pedro). E dois prêmios.
O primeiro foi a bondade de me introduzir na sua casa e na sua biblioteca pessoal, onde me espantou com a quantidade de livros. Não era muita coisa não: apenas um apto de 03 quartos só para aquela extensa família em prateleiras. Telefone não havia, mas não por causa da dificuldade da época (equivalia a comprar um carro). Era para não incomodar a família, de que o próprio historiador e advogado era, certamente, a mais amável parte. Se alguém precisasse falar com qualquer daquelas criaturas (numa emergência) era só ligar para a outra casa (casa mesmo), também na Pituba e a poucos minutos dali, onde o bom Mestre também recebeu este então tardio semi-adolescente, inclusive para almoçar.
Estávamos em 1982 e este então dissidente de medicina (Ufba) e confuso ingresso em sociologia (Ufba) estava agitado. Durante o ônibus para a Seplantec (Secretaria de Planejamento e Tecnologia/CAB), onde estagiava, havia visto no jornal A Tarde que viajava na cadeira da frente o seguinte:
De sonhador, o juízo daquele leitor-carona foi a doido. Mas como fazer uma monografia (que nem sabia o que era) sobre a relação entre o PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO (DA BAHIA) e A (sua) HERANÇA CULTURAL? Como um se relacionava com o outro? O viajante leitor-carona também não tinha ideia. Tinha apenas seis meses para apresentar o trabalho no Caminho das Árvores (sede do jornal), o que fez no último dia e no último minuto. Mas como?
Em contato com o grande Gustavo Falcón (professor e jornalista; veja AÇOUGUE CULTURAL, em MULTIUSO 2), os três meses que já haviam se passado em baratatontice se clarearam como um dia. Afinal, o que era uma monografia? Veio-se a saber. E Deus, na sua extrema misericórdia pelos inocentes, mandou o velho Robérico Celso, o grande amigo dos tempos de Assis Chateaubraind e Cidade Nova (em Feira de Santana) me apresentar dois livros. Um deles: COMO SE FAZER UMA TESE, de Umberto Eco. A sorte foi que o que já se tinha andado não tinha sido tão em vão assim. Aí é que entram o Professor Cid, que não se esforçava para esconder a sua alegria com o meu entusiasmo e terror de não dar tempo (“…vamos lá em casa, lá em casa tudo se resolve. A única coisa que você vai ter de fazer é ler…”); o já célebre Prof. Ubiratan Araújo (veja PROFo. Dr. UBIRATAN CASTRO DE ARAÚJO e AÇOUGUE CULTURAL/ MULTIUSO 2), que gentilmente me interrogou durante um almoço inteiro no restaurante da própria Seplantec; a compreensão de Vera Sales, a chefe; o não cansaço do próprio Robérico, que trouxe para aquele amontoado de papel toda a sua fábrica de gelo e metodologia; uma jornalista prestadora de serviço (esqueci o nome dela, infelizmente), que aceitou datilografar, em terrível senta-levanta, as 68 páginas entregues sem corrigir; e a pessoa que me amava na época.
O segundo prêmio que o professor Cid Teixeira me deu foi: “Parabéns!”
Era de manhã cedo e ele estacionava o seu opala em São Lázaro (FFCH/Ufba). Eu estava me encaminhando para uma pesquisa do IBGE (ganhar uns trocados) e tinha medo de olhar A Tarde daquele dia. É que já tinha relido o trabalho e sabia dos seus defeitos de fabricação. Não havia espécie de erro conhecido na terra (DATILOGRÁFICO!) que não estivesse lá e até o grampo de uma das vias a havia esparramado.
–Parabéns de quê, prossor?,
perguntei com o coração saindo pela boca e pedindo a deus que ele dissesse que eu havia ganhado o prêmio ERNESTO SIMÕES FILHO.
–Você não sabe?, aumentou a chama o “prossor”.
–Ganhei?
–Tá na TARDE de hoje“, respondeu o Mestre com carinho em meio ao abraço, o grito e a desistência de trabalhar que enlouqueceu o Brasil campeão do mundo em 1958.
E ainda ganhou por unanimidade, o que gerou (além do carro 0km) a publicação em caderno separado, numa edição de doming do próprio jornal.
Obrigado, professor.
Depois da entrevista no Site da Metrópole, vá ao site oficial do professor
http://www.cidteixeira.com.br/site/index.php
Não sei por que (talvez por ter reorganizado EUS), mas acordei hoje precisando fazer este post. Obrigado Professor.
Que coisinha linda esse post… Terno e doce.